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Por  Luciano Correia (*)

 

Ancelotti chegou para salvar a pátria de chuteiras. Já está se brasilizando. Foi ao Cristo Redentor pegar uma bênção com um desses padres da moda e tomou água de coco em Copacabana. Os repórteres de TV, com a intimidade que ninguém lhes conferiu, já o tratam por “Carletto”, o apelido italiano logo transplantado para a terra das palmeiras e sabiás. Corre o risco de dar certo, afinal, só a presença de alguém com autoridade no comando de uma molecada corrompida desde o berço já melhora o astral. Foi o que vimos nas duas partidas: ganhamos de meio a zero para a apatia que nos goleava há tempos.

A corrupção no futebol de Pindorama, vê-se agora, não era monopólio da cartolada. Os exemplos de Lucas Paquetá e Bruno Henrique cometendo faltas em campo para favorecer apostas de parentes longe dos gramados é só a pontinha do iceberg das Bets compradoras de resultados. Na Copa da Rússia em 2018, famílias dos jogadores não podiam ar do portão do hotel da seleção. Dos mortais comuns, me refiro. Num dos andares do hotel a famiglia Neymar, leia-se pai & filho, dava festas nababescas que faziam o corredor tremer de luxúria. Ai se as garrafas vazias de Stolichnaya falassem… Talvez um dia alguém fale.

Por aqui, terra de cajus e papagaios, esses arranjos não são novidade. Há quatro ou cinco anos meu Itabaiana foi garfado por um zagueiro do nosso próprio time que, num o de loucura que o fez pensar que jogava voleibol, pegou a bola com a mão na pequena área, do nada, sem mais nem menos. Sofremos um pênalti e perdemos o título. Saiu da cidade escoltado pela polícia, para não ser linchado ali mesmo no vestiário. Essa história foi contada entre risadas num antigo bar da rua Arauá pelo sujeito cuja função principal era arranjar essas “conversas” com defensores e goleiros adversários.

O futebol brasileiro não é melhor nem pior do que o resto do país: as igrejas católicas e, sobretudo, as evangélicas. A universidade pública e, pior ainda, as privadas. As câmaras, assembleias e o Congresso Nacional. As artes e os artistas, se não em maioria, pelo menos metade deles. Nesse país que se tornou improvável, nem a pureza das meninas de 15 anos existe mais. Tudo se degenerou na poeira da corrupção financeira ou moral, da violência verbal gratuita nas redes e da lacração. Bolsonarismos de direita e de esquerda assolam o país, só diferindo conforme a cor da bandeira, se vermelha ou auriverde.

Ancelotti não é ingênuo nem menino. Mas deixou de ganhar mais milhões do que o que ganha na Arábia e preteriu convites para os Estados Unidos porque queria justamente estar no lugar onde está, treinando uma seleção de futebol, que, no seu imaginário de pebolista, era um sonho idílico, algo que não a mais na cabeça daqueles 11 jogadores em campo e, muito menos, da massa embrutecida nos camarotes e arquibancadas. No futebol europeu também se vê coisas que até Deus duvida, mas o ser humano às vezes age como exceção pra confirmar a regra. Ancelotti, diante dos vários Maracanãs de uma gente que só quer levar vantagem, dentro e fora das quatro linhas, é um poeta em seu transe de artista. Que São Jorge do Futebol o proteja de nossas iniquidades.

 

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Luciano Correia

Jornalista e professor da Universidade Federal de Sergipe

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