Articulistas

Aos 65 anos, só quero uma vida de luxo 4x5g4f

Compartilhe:

Luiz Thadeu Nunes (*)

 

“A impressão que eu tenho é a de não ter envelhecido, embora eu esteja instalado na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu ado que define a minha abertura para o futuro. O meu ado é a referência que me projeta e que eu devo ultraar. Portanto, ao meu ado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu ado deixa para minha liberdade hoje? Não sou escravo dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo […] Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos”, diz Simone Beauvoir.

Hoje, amanheço com uma nova idade, chego aos 65 anos como um eterno aprendiz: com fome e sede de conhecimento, e olhos voltados para o futuro. Em cada ruga, uma história. Em cada cicatriz, um pouco de minha trajetória. E na minha mão mapeada, está gravada a minha estrada. Guardo sabores e odores. Lembranças dos que partiram e deixaram marcas indeléveis, jamais apagadas em mim. Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do ado, eu sinto saudades. Sou o somatório de tudo isso.

Retrato de Charles Baudelaire em 1863, por Étienne Carjat

Sigo aprendendo com Charles Baudelaire: “Deveis andar constantemente embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso. Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos. E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntais que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: — É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!”

 

Quantas vezes achei que fosse o fim, e a vida me surpreendeu, alargando minha estrada, me mostrando outra direção, me dando um novo fôlego para caminhar mais um tanto… Quantas vezes me julguei frágil demais, mas percebi a força que tinha, quando a única opção era secar as lágrimas e continuar. Quantas vezes me senti perdido, até descobrir que estava, finalmente, no caminho certo, e todos os os errados que dei, foram ponte para que eu chegasse até aqui. E quantas e quantas vezes ainda me surpreenderei com as voltas que o mundo dá, com os desfechos mais improváveis. ei por situações inimagináveis, mas Deus me poupou do sentimento do medo. Ele, sabendo de minha fragilidade, nunca me abandonou, ao contrário, me fortaleceu em cada novo desafio. Não somos donos de nada e, de nada sabemos. Às vezes, somos escolhidos, quando pensamos escolher. E, por mais que a gente teime em desacreditar, tem sempre um sonho novo, esperando para nascer.

Viver é entender que somos asas num voo de coragem, enquanto a vida é o vento.

Há tempo, sei que tudo pode mudar, que tudo pode acontecer, que nada veio para ficar, que tudo pode deixar de contar. Há muito tempo que entendo que a única coisa importante é que coloque quem verdadeiramente sou em tudo aquilo que estou neste momento a viver, sem me preocupar com o resultado final, mas apenas com a vivência em si. Tudo isso pode parecer insano e até mesmo irresponsável da minha parte, mas na verdade não é. Bem pelo contrário. Viver cada coisa no seu tempo é uma escolha apenas daqueles que criam histórias com novos olhares. Não é o futuro que importa, mas a extensão do meu presente. Não sou eu quem muda a vida, mas a vida que muda para mim porque eu mudei.

Neste 07 de dezembro, ao completar 65 anos de caminhada, quero ter o luxo de viver sem pressa. Preparar e desfrutar da minha refeição com calma. Dormir o suficiente. Ter tempo para contemplar a Vida. Quero ter o luxo de ser eu mesmo, sem precisar impressionar ninguém. Aprendi que riqueza é ter tempo para realizar desejos, sejam grandes ou pequenos. Luxo é ter mente sã, em um mundo insano. Seguindo meus ideais. Fazer as coisas que mais gosto e viver delas…

Eu quero viver com o luxo de não ter medos. Aceito o que vier… Adaptar-me a diferentes situações que estão por vir, sem esperar nada de ninguém…

E, acima de tudo, quero ter o maior luxo de todos… estar feliz agora.

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria; aperta e daí afrouxa; sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”, afirma João Guimarães Rosa.

Um brinde a essa coisa mágica e bárbara chamada VIDA.

Esta canção, Mercador de Ilusões, foi composta por Aroucha Filho/Bosco Carvalho/Rodrigo Chá, amigos de Luiz Thadeu.

 

Compartilhe:
Luiz Thadeu Nunes

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas". E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

Compartilhar
Publicado por
Luiz Thadeu Nunes

Posts Recentes 66264x

Sergipe registra alta em financiamentos de energia solar rural via BNB 4dr5l

  De janeiro a abril de 2025, Sergipe registrou 119 operações de financiamento para geração…

22 horas atrás

Humanismo, compromisso e responsabilidade — o cinquentenário do grupo Santa Helena em Aracaju-se 501v3i

  Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)   oucas vezes na vida, pude participar de…

22 horas atrás

Ancev on the road transforma Aracaju em polo nacional de inovação e espaços compartilhados 4d4s6j

  Por Antônio Carlos Garcia (*)   racaju se tornou, nesta semana, o epicentro nacional…

22 horas atrás

A península que virou ilha 381e6p

  Por Tarso Vilela Ferreira (*)   cidade de Barra dos Coqueiros, na qual decidi…

23 horas atrás

Iguá Sergipe realiza ações educativas na Semana do Meio Ambiente 2k6w2c

  Com a chegada do Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, a…

2 dias atrás

Ruffino: A vinícola italiana que levou o Chianti aos EUA e construiu um império na Toscana 633q2o

  Por Silvio Farias (*)   undada em 1877 pelos primos Ilario e Leopoldo Ruffino,…

2 dias atrás