Projeto Reluz, de Eddy Matheus, já capacitou mais de 200 pessoas, promovendo oficinas com materiais reciclados, criando ecobags, luminárias, vasos e identidade Fotos: Acervo pessoal 3l2ab
Por Thiago Santos (*)
Em um Brasil onde as estatísticas ainda insistem em invisibilizar a potência negra, uma sergipana e um sergipano têm desafiado o ciclo da exclusão com coragem, criatividade e propósito. Tatiane Santos Costa, 36 anos, fundadora da Negra Luz, e Eddy Matheus Ramos, 28, artista plástico e idealizador da Epic Arts Atelier, são dois nomes que representam muito mais do que negócios locais: são rostos, vozes e vivências que reconstroem diariamente o significado de pertencimento e transformação social em Aracaju e no interior do estado.
A história de Tatiane não cabe apenas em prateleiras com turbantes e órios afro. Seu empreendimento nasceu de um mergulho interno. “Foi o momento do meu mergulho em mim, enquanto pessoa preta”, relata. A Negra Luz é a continuidade de um processo de autoconhecimento que floresceu em forma de loja, de identidade e de acolhimento. Mais que vender, ela resgata. Cada peça carrega história, afeto e política.
“Empreender como mulher negra em Sergipe é ser constantemente desafiada”, afirma. Tatiane não suaviza sua fala ao expor os enfrentamentos: o racismo velado (e o escancarado), a ausência de espelhos, a solidão da empreendedora preta. “Mesmo me esforçando dez vezes mais, continuo invisibilizada.”
Ela relembra um dos momentos mais marcantes da sua trajetória: a participação na Feira Preta, em São Paulo, onde conquistou capital de giro, formação e visibilidade. O cancelamento do evento em 2025, por falta de patrocínio, a afeta diretamente. “É um ataque à potência que somos.”
Natural de Japaratuba, Eddy Matheus Ramos chegou a Aracaju ainda jovem. Foi na arquitetura que descobriu as artes plásticas e a possibilidade de expressar o mundo à sua maneira. Criou a Epic Arts Atelier, um espaço onde sustentabilidade, ancestralidade e arte urbana se entrelaçam.
Seu projeto Reluz já capacitou mais de 200 pessoas, promovendo oficinas com materiais reciclados, criando ecobags, luminárias, vasos e identidade. “Cada peça tem nome, tem alma. Sustentabilidade não é tendência: é um resgate de práticas ancestrais.”
Mas Eddy também denuncia o descomo do apoio estatal. “Faltam políticas públicas contínuas, e quando existem, exigem contrapartidas que ferem os princípios da nossa luta.” Mesmo assim, resiste. “A arte é criar um mundo cheio de possibilidades”, diz, repetindo a frase que acompanha a EPIC desde sua origem.
Tanto Tatiane quanto Eddy recusam a neutralidade. Em suas falas, fica evidente: cada peça, cada oficina, cada gesto é um posicionamento. “Até o meu silêncio é político”, diz Tatiane, ao justificar por que recusou propostas de empresas que queriam patrocinar seu evento de rua, o Tabuleiro da Preta, sem respeitar sua essência. “Não vendo o que sou.”
O evento, que já reuniu até 400 pessoas por edição, está em pausa. Motivo: segurança. “Abrir minha casa é abrir para pretos, gays, trans, gente de axé. E nem todo mundo respeita isso.” Mas a promessa de retorno é forte. Assim como o sonho da reabertura da Casa Negra Luz.
Mais do que números ou produtos, o que esses empreendedores oferecem é um espaço de escuta e pertencimento. “As pessoas querem ser vistas”, diz Tatiane. Eddy completa: “Já ouvi de uma criança: ‘é bom aprender coisas diferentes com pessoas diferentes’. Isso vale mais que qualquer verba.”
Ambos apostam na formação de redes. Tatiane acredita em um futuro onde o afroempreendedorismo tenha políticas públicas próprias. Eddy quer expandir sua rede de oficinas e capacitações. Nenhum dos dois deseja apenas crescimento: desejam consciência. “Porque produto qualquer um vende”, resume Tatiane, “mas vender uma história, só quem vive sabe o valor.”
(*) Estagiário sob a supervisão do jornalista Antônio Carlos Garcia
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