Por Silvio Farias (*)
Fundada em 1877 pelos primos Ilario e Leopoldo Ruffino, o que à primeira vista pode não parecer muito em um continente onde empresas centenárias não são raras, Ruffino foi a vinícola que exportou a primeira garrafa de Chianti para os Estados Unidos.
Para consolidar a imagem de um dos principais e mais tradicionais produtores toscanos, Ruffino contou com a produção de três propriedades principais: Poggio Casciano, a sede da vinícola localizada perto de Florença (onde saem as uvas para os rótulos Alauda e Modus), Santedame, na Conca d’Oro (zona nobre de Chianti Classico e onde produzem Romitorio) e Gretole, em Castellina e onde produzem as uvas para o icônico Riserva Ducale.
Hoje Ruffino possui mais de 1.500 hectares de vinhedos onde também constam uma propriedade em Montalcino (Greppone Mazzi) e a primeira vinícola comprada pelos primos Ruffino, a Montemasso, que ocupa o espaço de um monastério erguido no século XI.
Os domínios de Ruffino ultraam os limites toscanos e possuem duas vinícolas no Vêneto. Um dos principais vinhos da vinícola, o Chianti Classico Riserva Ducale é uma homenagem ao Duque d’Aosta, que na década de 1920 nomeou Ruffino como a vinícola fornecedora oficial de vinhos da realeza italiana. Desde então é produzido e sua consistência ao longo de quase 100 safras produzidas é uma grande chancela para a vinícola.
Na década de 40 foi produzida pela primeira vez o Riserva Ducale Oro, uma edição especial do rótulo para marcar as melhores safras. Hoje Oro é classificado como Chianti Gran Selezione, o nível mais alto de classificação para os Chianti.
A estabilidade de Ruffino é reflexo de seu enólogo-chefe, Gabrielle Tacconi, que elabora os vinhos desde 1998 e conhece como poucos o comportamento de cada um dos vinhedos e consegue retirar seu melhor a cada ano. Desde 2011 Ruffino é integralmente controlada pela Constellation Brands e está em marcha a conversão de boa parte de seus vinhedos para a cultura orgânica.
Sangiovese é uma das uvas tintas mais emblemáticas da Itália, amplamente cultivada nas regiões da Toscana e Umbria. Ela é a base de vinhos famosos, como o Chianti e o Brunello di Montalcino, a uva se adapta bem a climas quentes e solos calcários, resultando em vinhos de acidez alta, taninos firmes e bom potencial de envelhecimento.
Os vinhos feitos com Sangiovese geralmente apresentam aromas de frutas vermelhas frescas, como cereja e framboesa, além de notas de ervas secas e um toque terroso. Quando envelhecidos em barricas, ganham complexidade com nuances de couro, tabaco e especiarias. Essa versatilidade permite que a uva produza tanto vinhos leves e frescos quanto rótulos mais estruturados.
Sua alta acidez e taninos moderados fazem da Sangiovese uma excelente opção para harmonização com pratos de massas com molho de tomate, carnes grelhadas e queijos curados.
Embora sua produção seja predominante na Itália, também é cultivada em outros países, como Argentina e Estados Unidos, mas é na Toscana que alcança maior prestígio e qualidade.
A família Folonari, outra linhagem com raízes profundas no mundo do vinho, adquiriu a vinícola em 1913, injetando uma nova energia na marca e expandindo sua influência.
Sob a gestão dos Folonari, a Ruffino ganhou ainda mais prestígio, lançando em 1927 a Riserva Ducale Oro, um embaixador do Chianti que até hoje é um ícone do estilo e da tradição vinícola da região.
Esta safra, junto com o Romitorio di Santedame, um blend distinto de Colorino e Merlot, e o Modus, uma fusão de Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon, simboliza o compromisso da Ruffino com a qualidade e a autenticidade.
Hoje, a Ruffino é uma das primeiras vinícolas a possuir vinhedos nas três regiões vinícolas mais renomadas da Itália: Chianti Classico, Brunello di Montalcino e Vino Nobile di Montepulciano.
Com cerca de 600 hectares distribuídos por oito propriedades, a Ruffino não só preserva a arte da viticultura toscana como também a dissemina pelo mundo, com exportações para os Estados Unidos e outros países, mantendo-se sempre fiel à sua filosofia de revelar a essência do território toscano em cada garrafa.
A Itália funde séculos de tradição com inovações modernas, adaptando-se continuamente às novas tendências e paladares. Cada garrafa de vinho italiano é uma verdadeira obra-prima, uma expressão viva da cultura, paixão e terroir do país, consolidando assim sua posição como um dos maiores e mais diversificados produtores de vinhos do mundo.
Cada região italiana tem sua própria identidade ímpar, o Piemonte, ao norte, é reverenciado por seus vinhos Barolo e Barbaresco, elaborados a partir da uva Nebbiolo, reconhecidos por sua complexidade e longevidade.
Já a Toscana, berço de ícones como Chianti e Brunello di Montalcino, reflete a essência da uva Sangiovese e é um marco inigualável na vinicultura italiana. No sul, a Sicília e a Puglia se destacam por seus vinhos encorpados, fruto do generoso sol e do clima mediterrâneo.
Com uma paisagem que se estende desde os majestosos Alpes até as pitorescas margens do Mediterrâneo, o país oferece uma espetacular variedade de terroirs, resultando em uma riqueza de estilos de vinhos incomparável.
A região vinícola de Chianti se estende entre as cidades históricas de Florença, Siena e Pisa, na região da Toscana. Portanto, o mapa de Chianti se estende entre essas cidades. O mapa de Chianti é composto por diferentes denominações: Chianti Classico, Chianti Rufina, Chianti Montalbano, Chianti Montespertoli, Colli Fiorentini, Colli Aretini, Colli Senesi e Colline Pisane.
Todas as denominações estão localizadas dentro da área das Colline del Chianti (Colinas de Chianti), que se estendem pelas províncias de Florença, Siena e Arezzo em uma pequena porção.
Nas colinas verdejantes e exuberantes do coração da Toscana, entre as cidades de Siena e Florença, a região vinícola de Chianti traz sua longa história para cada taça de vinho.
Este fresco blend de tinto tem sido apreciado por grandes artistas e pensadores italianos, como Michelangelo, que produzia seu próprio vinho nas colinas de Chianti, Maquiavel, que escreveu sua obra-prima “O Príncipe” enquanto residia aqui, e Giuseppe Verdi, que adorava beber uma taça de Chianti de vez em quando.